terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Esvaziaram o nosso ventre

"Esvaziaram o nosso ventre
Logo nós, que temos tanta fome de sentir.
Logo nós que temos tanta fome de viver..."
Gisele T. Ricetti

        O padrão de beleza de um corpo esquálido é um contra senso de uma sociedade que não mede esforços para consumir, se encher de alimentos, de imagens, sons, informações. Isso gera nas mulheres um conflito interno de grandes proporções: Você pode se encher, mas deve se esvaziar! Afinal, a máxima de que beleza é fundamental ainda persiste num meio onde academia nada mais é do que um lugar para moldar o corpo como se fosse massinha de modelar.
        Então as mulheres desenvolvem transtornos mentais/alimentares. Consomem ininterruptamente informações, fotos, vídeos, áudios. E em seguida precisam "vomitar" tudo isso. Mas nada de fato chega a construir seus corpos, ficam na mente, o estômago não digere e é tudo posto para fora. Junto com todo o excesso de consumo, acaba se desfazendo também de seus princípios familiares, sua base espiritual, como se tudo isso lhes fizesse mal também. E toda tentativa de reconstrução de sua base é frustrada pois acontece somente na cabeça, não chega mais ao coração. Uma nova religião? Desde que seja como EU penso, Uma nova relação? Desde que seja como EU quero. E assim as sensações vão se estinguindo, o corpo morrendo a míngua, faminto que está de sentir.
        Esta é a mulher esperada, aquela bem bonitinha, meio quieta, muito vazia, quase sem vida. Afinal é mais fácil lidar com loucuras e neuroses de um corpo sem alma, totalmente previsível, do que com alguém repleta de vida, que sente prazer, que sabe o que quer, que não se corrompe e não se permite vivências vazias, pobres de amor e alegria.
Gisele T. Ricetti

Nutrir é Alimentar o Corpo e a Alma!

        O alimento é o foco da saúde e da vitalidade. A Nutrição para uma nova consciência fala não
somente do que se come, mas também de como nos alimentamos, o porquê de querermos
comer, as motivações por trás de nossas escolhas e também do modo como se cultiva e se
prepara aquilo que nos chega à mesa. Vai além de aspectos meramente bioquímicos do
organismo e quantitativos dos alimentos.
        Numa visão ampliada e integrativa, a nutrição é vista como o estudo da totalidade de relações
entre os organismos e seu meio ambiente (17° Congreso Internacional de Nutrición en Viena, 2001;
Declaración de Giessen, 2005). Pois a interdependência que existe entre os seres (incluindo o reino
vegetal) gera impactos tanto locais como globais (teoria científica dos sistemas dinâmicos
integrativos).

        O conceito de “Nutrição Ecológica” foi definido já em 1987 por um grupo de nutricionistas na
Universidade de Giessen (Alemanha). Considera os impactos sociais e ambientais da produção de alimentos, do seu beneficiamento, comércio e consumo. Ou seja, tudo o que se produz e se consome gera impactos no ecossistema, do qual também fazemos parte, e reverte/retorna na qualidade do alimento que consumimos – tanto em nutrientes, como em energia vital.
        O questionamento sobre como os alimentos são produzidos e quais as implicações destes processos é de extrema importância para a nossa saúde. Pois se ingerimos alimentos contaminados, tóxicos e pobres em energia vital, isto impactará diretamente na saúde,
harmonia interna-externa. Muitas doenças e problemas orgânicos podem ser evitados se nos atentarmos para refletir na qualidade do alimento que estamos comendo diariamente!
        Questões relacionados a perma-cultura, sistemas agroflorestais e biodiversidade são foco de
interesse se queremos construir uma realidade que seja sustentável coletivamente.
        Lembrar ainda que a escolha da procedência dos alimentos também é uma forma de manifestação e de produção da realidade. Pois as escolhas tem poder de mudança!
        Comer também é um ato de Manifestação: um ato agrícola, ecológico e político.

        “Estamos vinculadas à agricultura quando comemos, e como consumidores,
somos também “co-agricultores” e criamos nosso sistema agroalimentar com
as opções que fazemos quando comemos” 
                                                                        Wendell Berry, agricultor e ativista americano

        Nesta grande teia de relações, um alimento ecológico é aquele que se obtém respeitando o
equilíbrio do eco-sistema ... e que além de fazer bem para quem o consome, também impacta
positivamente no meio ambiente e na sociedade. É a tal visão holística e sistêmica, onde a soma do todo é maior do que as partes isoladas.
       Considerar a qualidade e a sustentabilidade dos recursos utilizados na produção dos alimentos,
bem como a biodiversidade do entorno e a interação entre as espécies, implica diretamente na
vitalidade e valor nutricional do alimento, com efeito sobre o nossos corpos – físico e sutis.
        São estas interações macro e micro-orgânicas que nos conectam como um grande organismo
integrado e vivo!
        A nutrição ecológica propõe uma alimenta-ação para um despertar consciente. Nos convida a refletir sobre estes aspectos que podem auxiliar a fazermos melhores escolhas, focadas no multi-beneficiamento de todas as espécies, seres e reinos.
                                                                                                                     Franciele Lens

“Isto sabemos:
Todas as coisas estão ligadas
como o sangue
que une uma família....
Tudo o que acontece com a Terra,
Acontece com os filhos e filhas da Terra.
O homem não tece a teia da vida;
ele é apenas um fio.
Tudo o que faz à teia,
ele faz a si mesmo”.

- Ted Perry, inspirado no Chefe Seatle