quinta-feira, 25 de junho de 2015

Dança do Ventre - Da miséria ao êxtase

      Ouvindo Lena Chamamyan e tomando um chá de especiarias, no maior clima Oriente Médio, pus-me a pensar na profundidade da dança, em especial da dança do ventre. Antes de ser uma expressão cultural e artística, a dança foi uma forma de expressão de si mesmo, levando ao sentimento de união com o divino. Por isso os seres humanos começaram a dançar, e a organizar sua dança, e a fazer continuamente. Então, por mais que muitas vezes não se queira, e as vezes se queira com muita veemência, dançar é um ato esotérico.
     Daí surge a pergunta: como está a minha dança? Danço pra quem? E por quê? Segundo Nietzsche: " E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música." Em verdade loucos eram os que não ouviam a música, e loucos exibicionistas os que dançavam sem ouvir a música! Óbvio que a filosofia de Nietzsche é ampla, mas como toda boa filosofia se aplica facilmente. Já que esta menciona a dança, por que não levá-la ao pé da letra?
     Em dança do ventre, quantas são capazes de ouvir a música, serem tomadas por ela, e entrarem em um estado pleno, pelo simples fato de serem tiradas para dançar pela própria música? E quantas dançam com o objetivo de ter plateia, a música de fato não as toca, dançam, sem ouvir a música, e ao terminar se glorificam dos acertos e se punem pelos erros cometidos? Quantas são capazes de perceber a energia movimentada durante a dança e liberar-se física, emocional e sobretudo egoicamente para que a dança possa fluir? Quantas se contentam com a miséria de notas e moedas de ouro no cinturão, enquanto a dança pode levá-las ao maior estado de graça? Quantas estão dessincronizadas com a música, desarmonizadas com o grupo e principalmente, não percebem de fato tudo isto porque estão desconectadas de si mesmas?
     Uma multidão de pessoas que dançam sós, com objetivos medíocres de serem melhor que as outras, ou aparecerem mais que as outras, ou simplesmente postarem mais fotos que as outras. A dança é muito maior que isso. A dança do ventre é livre de vaidade e rica em humildade, genuinamente leva à união, união de pessoas que colaboram umas com as outras, que desenvolvem uma cumplicidade, daquelas que se conversa com o olhar, que jamais se sentem sós ou perdidas, porque sentem que fazem parte de algo. E a partir disto caminham para o encontro de si mesmas, para a plenitude da alma. E dançam libertas de julgamentos, condenações ou exaltações, dançam para si próprias, pela própria alegria do dançar!
                                                                                Gisele T. Ricetti


 

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