quarta-feira, 3 de junho de 2015

Nascer, rezar, respirar

     Nascer, rezar, respirar...
     Qual a grande diferença, qual a similaridade?
     Temos dado tempo suficiente para isto tudo?
     Respeitamos a unicidade do respirar (como se cada respiração fosse a única), e do rezar (como se cada prece fosse sempre nova, cheia de frescor)?
     Respeitamos a naturalidade do nascer? E do rezar?
     Respeitamos a sacralidade do nascer? E do respirar?
     Em tempos onde o natural, o único e o sagrado muitas vezes fica submetido ao tempo, ao dinheiro, e a "self", não podemos nos esquecer da atemporalidade do amor, do valor (e não do preço) de momentos únicos e do movimento da Vida, que máquina nenhuma pode registrar!
     Façamos então de cada respiração uma prece, de cada prece única e de cada nascer a expressão natural da Vida!
                                                                                                Gisele T. Ricetti


     "Que longo caminho percorremos!
     Saímos das águas e tomamos pé. Nós nos levantamos...
     Deixamos a posição rastejante da vida que se aventurava fora dos mares, fora de um longo passado oceânico.
     Nós nos levantamos.
     A Terra nos carrega.
     A Terra nos sustenta.
     Mas é do céu, da luz que vem a vida.
     Erguendo-nos, achamos a direção, sentido.
     Dirigimo-nos para nossa verdadeira fonte que está no alto.
     E sobe ao céu cada manhã.
     Para percorrer este caminho que leva do mineral ao homem, quanto tempo foi preciso!
     Milhares, não, milhões de anos.
     Esse caminho, reduzido no tempo, a criança, num relâmpago, faz novamente ao nascer.
     Não é o caso de esperar alguns instantes por aquilo em que a vida perdeu tanto tempo?
     Fazemos nossas preces correndo?
     E o que é a prece senão o inverso do caminho que a criança percorre ao nascer?
     Em qualquer religião, o fiel se curva.
     Interiormente, apenas em intenção.
     Ou se ajoelha, curva a cabeça, se inclina e toca o solo com a fronte, com os braços dobrados sobre o peito.
     Baixa-se.
     Demonstra obediência. Humilha-se.
     Beija a Terra.
     Submete-se a ela.
     Fazendo isso, fechando o corpo e o peito, esvazia-se,
expira...
e retoma, privado de fôlego, a postura e o estado da criança antes do nascimento.
     Então, tendo mostrado completa obediência, tendo tocado com a fronte Aquela que o carrega, que o nutre, a quem um dia retornará, está pronto para renascer.
     Corrige sua posição,
estende-se.
     Suas costas se abrem, se expandem.
     O ar o enche.
     E, com os olhos para o céu, envolvido pela luz, carregado pela inspiração, treme, sentindo a força que o invade.
     Sim, isto é a prece.
     Aí está o curto, o longo caminho que vai do fundo das águas, atravessa a Terra, os ares, para subir às alturas.
     É o duro caminho que a Vida percorreu e que todo ser refaz ao nascer.
     Fazemos nossas preces correndo?
     E para nascer, não é preciso mais que um instante?"
Frédérick Leboyer

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