sexta-feira, 27 de maio de 2016

Dançar no Ritmo da Vida

        O ritmo, presente na dança, nos dá valiosas lições sobre o ritmo do universo todo. Nosso comportamento com relação à ele retira os véus colocados sobre nossos olhos com relação à nossa maneira de viver!
        Em todo o universo há ritmo, que é natural e envolvente. E a todo o momento somos chamados aos ritmos, e só o perdemos quando os nossos egos se envolvem, tentando nos fazer crer que somos entidades completamente separadas e que não somos parte integrante da natureza, e que as leis naturais não cabem a nós.
        Sabemos que estamos envolvidos em um ritmo quando sentimos leveza, fluidez. Quando, apesar das nossas escolhas de passos, somos guiados pela música. E na vida é exatamente assim. O que fazemos com maestria, com o coração e a alma, o que fazemos sem dúvidas, segue o ritmo que lhe é natural. Um bom cozinheiro torna-se um maestro quando em sua cozinha, flui o movimento de suas mãos que cortam, transparece a sua capacidade de sentir os cheiros, as texturas e os sabores. É praticamente uma dança... Quando se está no ritmo não há espaço para a lamúria e o sofrimento. Só há espaço para o contentamento e o amor!

        E quando estamos fora do ritmo? Ora, é exatamente o que acontece quando se dança. Se não estamos no ritmo, sentimos que a música demora a passar. Que é pesado, difícil. Sentimos ansiedade, insegurança, medo. Ora nos aceleramos e atropelamos, ora retardamos... E muitas vezes, como solução mais fácil, copiamos quem está ao nosso lado...
        Na vida, sabemos que estamos fora do ritmo quando nos encontramos numa situação em que olhamos o relógio inúmeras vezes, e parece que o tempo insiste em não passar. Quando achamos tudo chato, monótono.
        Também é sinal de que estamos fora do ritmo quando sentimos a vida pesada, nos esforçamos muito, cansamos muito. Quando não vemos a hora de nos livrarmos daquela atribulação, ou simplesmente nos resignamos com ela. Não há de fato amor, alegria.
        A ansiedade, tão habitual hoje, é sinal de que não estamos no ritmo. Queremos fazer, mas de fato não sabemos bem o que e nem como. Nos atropelamos, e também aos outros, não damos tempo nem espaço às suas expressões. Retardamos as reações, e também as ações, e perdemos inúmeras oportunidades de rir de nós mesmos, e na frustração, acabamos entendendo como um insulto, um ato de desaprovação... e sofremos.
        E por não crermos de fato que todo o ritmo pulsa dentro de nossos corações, sentimos medo, insegurança, e copiamos quem está ao nosso lado. Compramos o que todos compram, vamos onde todos vão, guiamos nossas vidas como todos, às vezes tentando nos iludir que somos originais e que estamos corretos, mas invariavelmente o vazio interno e a insatisfação não nos permite acreditar que é assim.
        Nem todos devemos e queremos dançar a mesma música, nem todos os ritmos devemos seguir. Afinal, o universo é repleto de ritmos aos quais podemos entrar e sair de acordo com nossa disposição e vontade.
        Então, muitas vezes decidimos dançar tango, por considerarmos uma bela dança. Aprendemos os passos, estudamos, sabemos a história do tango, nos consideramos e por vezes somos considerados mestres na arte do tango. Porém há um grande problema, estamos ouvindo samba! Então dançar tango exige muito esforço, dedicação. Olhamos ao redor e todos dançam samba. E num momento mínimo de distração, dançamos no ritmo do samba. Ficamos bravos, nos sentimos perdedores... Em defesa própria achamos que todos estão errados. Que a música está errada. Em nosso grande equívoco ignoramos que para dançar tango não devemos ir à gafieira, mas em busca de onde se toca tango.
        Parece até uma grande bobagem tudo isso, mas é o que fazemos continuamente em nossas vidas. Decidimos mudar um hábito, o que muitas vezes é bom, lemos, estudamos, buscamos até ajuda profissional muitas vezes. Porém não nos desligamos do ritmo antigo. De fato, ainda não conseguimos ouvir a nova melodia. Insistimos em ouvir a música anterior para critica-la, olhar quem segue os hábitos aos quais pretendemos deixar... Achamos que por termos lido, ouvido a respeito, podemos adaptar o novo ritmo aos velhos passos. E ficamos completamente desconcertados. Afinal não somos nós que fazemos a música, somos somente guiados por ela!
                                                                                        Gisele T. Ricetti 

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